“A Bioenergética assenta no pressuposto de que cada pessoa é o seu corpo. Nenhuma pessoa existe fora do corpo vivo, no qual ela tem existência e através do qual ela se expressa e se relaciona com o mundo que a rodeia. (…) A mente, o espírito e a alma são aspectos de qualquer corpo vivo. Um corpo morto não possui mente, perdeu o espírito e a sua alma também o deixou.
Se a pessoa é o seu corpo e o seu corpo é a pessoa, então ele expressa quem ela é. É a sua forma de estar no mundo. Quanto mais vivo for o seu corpo, mais viva estará a pessoa no mundo. Quando um corpo perde alguma da sua vivacidade, por exemplo, num momento de exaustão, a tendência é retirar-se. A doença tem o mesmo efeito, produzindo um estado de retraimento e retirada. É possível que a pessoa sinta que o mundo está a uma certa distância ou que o veja através de uma espécie de nevoeiro. Por outro lado, existem dias em que a pessoa se sente muito viva e em que o mundo à volta parece mais claro, mais próximo e mais real. Todos nós gostaríamos de ser e de nos sentir mais vivos e a Bioenergética pode ajudar-nos a alcançar este objectivo.”
(Alexander Lowen, M.D., “Bioenergetics”, 1975)
A Análise Bioenergética é uma psicoterapia psicodinâmica que aborda os problemas psicológicos através uma combinação integrada do trabalho com o corpo e com a mente. De base psico-desenvolvimental, esta psicoterapia parte do princípio fundamental de que os conflitos e os traumas que acontecem no decurso da infância influenciam e afectam a auto-percepção adulta, as atitudes e os comportamentos, comprometendo a qualidade da vida relacional do indivíduo. De modo inovador em relação a outras psicoterapias, a Análise Bioenergética considera que os conflitos e os traumas afectam não só os processos a nível do pensamento mas também o corpo.
Fundamentando-se na existência comprovada de uma correlação estreita entre a mente e o corpo, a Análise Bioenergética considera e aborda o indivíduo como uma unidade psicossomática: o que afecta o corpo afecta a mente e o que afecta a mente tem repercussões no corpo. Com efeito, as defesas psicológicas, que todo o ser humano constrói na infância e consolida na adolescência como modos de sobrevivência, permitindo-lhe lidar com o sofrimento e as repressões, por vezes, agressões do meio envolvente, estão também gravadas no corpo. Ajudar o paciente a recuperar essa vasta memória corporal e a interpretar o correspondente significado psicológico é um dos objectivos deste modelo psicoterapêutico.
As defesas psicológicas traduzem-se no corpo sob a forma de padrões de tensões musculares crónicas, que inibem a auto-expressão e a espontaneidade e que reduzem, em maior ou menor grau, o fluxo energético para as zonas do corpo situadas para além dessas barreiras de tensão muscular, com a consequente sobrecarga energética de outras zonas e com impedimento da natural descarga.
Os padrões de tensões musculares crónicas, diversos de indivíduo para indivíduo, podem ser identificados e compreendidos pelo psicoterapeuta bioenergético. As tensões musculares crónicas, diferentes das tensões ocasionais a que todos os indivíduos estão sujeitos no seu percurso de vida, nem sempre são sentidas pelo indivíduo, já que cresceram com ele. No decurso do processo psicoterapêutico, o paciente tomará uma consciência progressiva dessas tensões, sentindo-as e podendo tocar-lhe com as suas próprias mãos, e, ao mesmo tempo, irá aproximar-se do seu significado psicológico, quer imediato e à luz do presente quer no seu sentido mais profundo e arcaico.
Os analistas bioenergéticos, diferentemente de outros psicoterapeutas, focalizam a sua atenção nos padrões musculares do corpo do paciente e na respectiva relação com o movimento, a respiração, a postura e a expressão emocional. Toda a expressão física do corpo tem significado: a qualidade de um aperto de mãos, a postura corporal, a expressão do olhar, o tom de voz, o modo como anda, a coloração da pele do ponto de vista de uma maior ou menor irrigação sanguínea, a quantidade de energia disponível e sua qualidade são alguns dos pólos de atenção. Se estas expressões se apresentam de modo fixo e habitual, contam-nos, por certo, a história da experiência passada do indivíduo.
Partindo do estudo do padrão de tensões musculares crónicas do paciente e dos dados da história de vida que este narra, o analista bioenergético inicia-o na prática de exercícios de complexidade crescente, em que se incluem as expressões física e emocional, que o ajudarão a vivenciar no presente os padrões de bloqueio do seu corpo. O psicoterapeuta trabalha com o paciente de forma a ir relaxando e libertando as tensões e a recuperar alguns dos sentimentos que estas reprimiram durante a infância e continuam a reprimir na sua vida adulta. À medida que a memória do corpo é desperta, o paciente vai compreender progressivamente como e porquê se desenvolveu o seu padrão de tensões musculares crónicas e como estas defesas, que são um estorvo na sua vida presente e que já não têm qualquer serventia senão excepcionalmente, lhe permitiram, afinal, sobreviver na infância num ambiente de desprotecção ou de pouco suporte ao seu ser. À medida que as emoções emergem, o paciente começa a compreender que estas tensões inibem a sua capacidade de ser espontâneo e criativo na auto-expressão. Também entendem que, à medida que as suas defesas se tornaram crónicas, o mesmo aconteceu às tensões musculares do seu corpo. Estas defesas somáticas afectam o seu bem-estar emocional ao diminuir o nível de energia e ao restringir a capacidade de uma genuína auto-expressividade na sua vida relacional. O indivíduo não possui um corpo suficientemente livre de modo a poder sentir alegria, felicidade, amor, tristeza, medo, sensualidade, zanga, raiva e ternura.
No percurso psicoterapêutico, irão dissolver-se pouco a pouco as antigas e ineficazes tensões musculares crónicas que bloqueiam a conexão do corpo, o prazer, a espontaneidade e a alegria. Através da libertação física e emocional proporcionada pelo trabalho corporal e pela experiência de uma saudável relação de confiança e de suporte com o psicoterapeuta, o paciente aprende uma nova e mais satisfatória maneira de se relacionar consigo próprio e com os outros.
Através da identificação dos padrões de tensões musculares crónicas que bloqueiam a auto-expressão do corpo, o analista bioenergético desenvolve uma compreensão mais clara dos vários tipos de personalidade e correspondentes problemas psicológicos. O padrão específico de cada indivíduo sugere a sua estrutura defensiva básica, desenvolvida como resultado da sua história psicológica. No contexto dos fundamentos teóricos e teórico-práticos da Análise Bioenergética, a descoberta do padrão de tensões e da respectiva ligação com o tipo de personalidade permite o estabelecimento de uma estrutura potencial para o trabalho a realizar no percurso psicoterapêutico do paciente.
Fontes Bibliográficas Oficiais: o Site do IIBA; o livro “Análisis Bioenergetico” de Guy Tonella, 1999 Gaia Ediciones; e o documento “Answers to EAP´s 15 Questions about the scientific validation os Bioenergetic Analysis”, da EFBA-P, 2004.